sexta-feira, 4 de maio de 2012

Paulista


São Paulo é muita coisa. É a genialidade do óbvio. A pomba que ficou marrom de sujeira. A recepcionista de unha verde musgo. A série de gravatas cinza. O encontro casual de dois amigos gays. A Paulista pulsa. E tudo hoje parece um dia qualquer de março de 2009...

Todo aquele tempo de caminhar meio sem destino, descobrindo a cidade, louco para conhecer esses seres. Hoje, sou mais um deles. O cinza e o preto dominam meu traje social e uma mochila completa o look.

Há menos ilusão e inquietude. E o temor de não conseguir me juntar à multidão é diferente, menor, mas presente. E quem ama São Paulo com todas as suas dores? Mesmo prestes a soltar um grito de chega? Quem tolera tanto ao mesmo tempo por todo o tempo? E quem nos vê de fora?

É só uma cena de confusão. O fulano que passeia com seus cachorros; a mulher que recolhe bitucas; o gordo que se diverte no celular. Um passarinho tenta em vão competir com os carros. A adolescente empunha um livro de amor. Corpos semi-exibidos após um streap-tease de roupas de frio.

O rolo de fios atrofia os galhos e entristece a árvore. O picolé parece sem gosto. O sol chama. O rock and roll brota da calçada. O charme da mulher de meia calça de bolinhas. Seu cabelo semi-louro, sua saia alta, seu requinte... É o desfile constante de vidas e cenas inusitadas. 
 
Entre Aspas: A árvore entristece ao perceber que o machado é feito de madeira. Da peça Memórias da Cana.