terça-feira, 25 de janeiro de 2011

De onde as palavras vêm

A matéria que produzi como um dos trabalhos da pós de Jornalismo Literário nasceu de um texto publicado nesse blog (confira aqui).

O ensaio foi publicado em dezembro de 2010 no Texto Vivo.

E apreveitei para publicá-lo também no meu blog de jornalismo literário sem as edições do site.

Aqui você confere os bastidores que me levaram a escrever sobre o assunto:

Making of - Ana e eu

Esse texto é um grito. Uma resposta. É como se eu devolvesse todos os sentimentos que experimentei quando vi Ana pela primeira vez. Como se isso ajudasse a desafogar uma série de reflexões e angústias que alimentava dentro de mim.

Escrever um ensaio pessoal foi, antes de tudo, um ato de superação. Sempre achei que não tinha experiências suficientes para contribuir significativamente com os leitores com quem iria compartilhar o texto. Achava que grande-reportagem, por exemplo, era muito mais valiosa do ponto de visto jornalístico. Tinha medo também de me expor, de expressar meus juízos de valores, meus pré-conceitos, de ser eu mesmo. Tinha medo de “travar” e de no final escrever um texto chapa branca que me mostrasse com um ser superior e sem defeitos.

Não foi nada disso que ocorreu em “O choro dos olhos”. Comecei a matéria a partir da curiosidade que aquela moradora do Minhocão me despertava. Queria contar sua história, escrever seu perfil. Ela fazia parte de uma parcela da população por quem sempre me interessei: os extremamente pobres. Mas havia algo a mais naquela mulher. Ela me despertava pensamentos e reflexões.

Com o passar do tempo e feita as primeiras entrevistas, percebi que mais do que sua história, – que ela parecia não querer contar para não precisar lembrar de seu passado -, me interessava o que ela me provocava. E isso foi mudando ao longo dos dias em que convivemos e vai sendo expondo durante a narrativa.

Deixei as coisas fluírem e estou no texto o tempo todo, mas não estou sozinho. Fico sempre acompanhado de Ana e de todo o universo que a cerca. A partir dela vou caminhando para entender questões universais, com reflexões que surgem a partir desse ser tão singular.

Eu mesmo vou me tornando um sujeito desse universo. A imersão no mundo de Ana é para entender o que ele provoca em Guilherme. Somos humanos, temos qualidades, limitações, escolhas próprias...

É uma história em que não só me coloco no lugar do outro, como sou o outro. A matéria estava dentro de mim, esse tempo todo. Ela precisava de tempo e motivo para ser maturada, precisava de um incentivo. Migrante, morador de São Paulo há menos de dois anos, esse texto faz parte do meu período de descobertas na cidade, dos incômodos e debates internos a partir do cotidiano nessa metrópole.

O texto pretende continuar dentro do leitor, fazer com que pense, reflita. É uma narrativa que fala sobre as falsas aparências. Sobre quando piedade causa mais um desejo egoísta do que a vontade de realmente ajudar o próximo. É um texto mais recheado por silêncios do que por diálogos. Por reticências do que por fatos detalhados. Características bem presentes na fala ou na não-fala de Ana.

Uma mulher protagonista, que após uma primeira conversa livra-se da piedade que poderia causar pela sua situação. Ela é bem mais do que um ser que mastiga e lacrimeja. Possui prazeres, defeitos, qualidades e vive independente de mim ou de qualquer outro sujeito “caridoso” que atravesse a Avenida General Olímpio da Silveira.

Uma mulher que me remete ao cego que mastiga chicles do conto “Amor”, do livro “Laços de Família” de Clarice Lispector. Ana me modifica sem precisar se mexer. Provoca-me por ser ela mesma. E o texto busca sentidos para tudo o que percebo, para o que me aflige e, jornalisticamente, busca algo que uma frase do Galbraith resume bem: “Gostaria de, com o meu trabalho, levar um pouco de conforto para os aflitos e um pouco de aflição para os confortados”. E nesse caso, a aflita não é Ana e o confortado não sou eu. Todos nós acabamos por ser um pouco dos dois.

domingo, 9 de janeiro de 2011

2010 de trabalho. 2011 de mudanças


2010 chegou com as sete ondas puladas na Praia de Boa Viagem, em Recife. Começou intenso, marcando presença numa noite de réveillon que terminou com o nascer do sol e com um cheiro, vice?

No carnaval, a tranquilidade do Pantanal, da pacata Porto Murtinho e de um lugar que remete aos meus antepassados e a mim mesmo. Foi um ano de viagens: além de Pernambuco e Mato Grosso do Sul, fui a Porto Alegre, Santos... O trabalho me levou a Salvador, Rio, Paraty, Curitiba e São José dos Campos.

Foi, sem dúvida, o ano em que mais trabalhei na vida. Pela primeira vez, fiquei 24 horas acordado para dar conta de todos os compromissos que havia assumido. Agosto foi o auge desse processo workahorlic e deve refletir até hoje nas minhas olheiras.

Também me diverti. Fui ao Rio na semana santa e ganhei um bronzeado que me deixou negão por uns dias e descascando por outros tantos. Experimentei, involuntariamente, ficar cinco meses sem ir a Campo Grande e senti na pele o que é saudade.

Período de estudos, de conclusão da pós-graduação de Jornalismo Literário e de fazer curso para jornalistas econômicos na FAAP-MBA.

Conheci a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de outra forma e fiquei ainda mais deslumbrado com tudo aquilo – um dos melhores momentos do ano!

Em algum momento de 2010, pensei em voltar para Campo Grande. Cheguei a estudar uma proposta de trabalho lá, mas São Paulo já tinha me envolvido. Mesmo na capital paulista, estive nos melhores acontecimentos da cidade morena (aniversário da minha mãe, da minha avó; eleição; casamento da Marina e do Afonso e da Marina e do Luíz, além do Natal).

Foi um ano de me apaixonar por São Paulo e ver alguns sentidos em toda a sua grandeza. Ano de paixão arrebatadora, ensaio de relacionamento à distância e um término difícil de digerir.

Tempo de receber amigos na minha casa; de estreitar meus laços fraternos com a Marcelle; de procurar novos desafios e de questionar onde estava o meu tesão perdido. As últimas páginas do calendário viravam e 2010 teimava em persistir intenso. Às vésperas do Natal, ganhei um presente do Papai Noel: um novo emprego. A entrega ficaria pro meu aniversário, em 3 de janeiro, já no 2011.

2010 confirmou, assim, a sina dos números pares na minha vida: um período de construção, preparação e muito trabalho para garantir as realizações e as mudanças nos anos ímpares.

2011 começa com outras ondas, no réveillon de Copacabana. Uma festa mágica, com cenário e energia indescritíveis. Ali nasceu um ano para chamar de novo. Mais uma vez quero trabalho, claro, mas também amor, saúde, viagens, dinheiro e aquela impalpável qualidade de vida.

Um ano ímpar, 11, que chega com mudanças, promete desafios e realizações. O pedido é que seja grandioso e inspirador como São Paulo e que reserve boas surpresas como os fogos de artifício que dançaram no céu carioca saudando: Feliz 2011!