sábado, 31 de julho de 2010

Elevado


Ousei ficar sentado ali por alguns minutos. Estava a alguns metros de casa, mas testava a vulnerabilidade daquele lugar. Às 2 horas de domingo, o Minhocão era um local inóspito. Um outro cara, sentando no mesmo canteiro que eu, escrevia algo. Mais adiante, um grupo de jovens confraternizava e provavelmente consumia drogas.

O ar era fresco. Libertava o meu corpo da morte e deliciosamente aguçava a sensação de estar vivo. O céu era azul marinho acinzentado. Assim como não atingia o tom azul celestial durante o dia, não conseguia ser preto de noite. Os prédios pareciam tocá-lo e afugentar as estrelas, a lua...

Os carros não param de passar lá embaixo. A vida a correr. Eu, mesmo sem convites para uma noitada, consigo sentir a noite por completo. E ela chega intensa no meu ser. E com meu bloquinho, empunhando meu lápis, me sinto acompanhado. Um delicioso fim de sábado e início de uma nova semana.

Nos apartamentos,luz e vida, gente acordada. Um cara mal-encarado de bicicleta ronda meu entorno. Se não for assaltado... e não fui... volto para casa agora. A noite exala tão plena que já sou capaz de viver uma semana toda embalado por esse gosto doce. É melhor ir e terminar assim, com uma boa noite (...)!

[25/04/2010]

Entre Aspas: Será que usamos o cotidiano para fugir da angústia de existir? Da peça "Um Dia a Menos" baseada na obra de Clarice Lispector.