quinta-feira, 25 de março de 2010

A melhor resposta é o silêncio?

Esse post, na verdade, devia ser um não-texto. Um espaço em branco. Uma sequência de vazio, sem palavras, só ecos e reflexões internas. Mas como calar se a sociedade nos exige respostas, atitudes, ações? Diante de um mundo que tem solução para tudo, no qual todos os problemas têm saída, as maiores dúvidas ainda são aquelas perguntas que saem quase infantis como se viessem de uma criança e criam embaraço por não ter respostas.

Sempre achei que algumas perguntas fossem melhores do que qualquer resposta. Ficava pensando que algumas delas não tinham solução mesmo por mais bem explicadas que fossem. Sempre questionei, inseri uma interrogação e ainda adicionei mais um porquê em tudo que me davam como pronto. Talvez seja mal de jornalista.

Sempre falei pelos cotovelos. Sobre tudo, como se de alguma coisa eu entendesse. Como se eu fosse conhecedor de alguma ciência ou fosse capaz de opinar sobre qualquer tema ou como se minha opinião valesse para algo. Ou por que então eu teria três blogs? Sim, três (Quintal do Gui, Brisa no Quintal e Dias de Guilherme). Talvez por que eu goste de filosofia de boteco e dessas reflexões bem baratas desse tipo que forjo aqui e impressiono alguns poucos amigos.

Esse post, na verdade, é só para dizer que não sei responder a uma pergunta que me fizeram ontem. Eu me despedia de amigos e colegas no MSN após um dia cheio. Mais do que trabalho, eu tinha planejado uma vida toda, após receber boas notícias. O corpo já estava cansado, a cabeça consumida o suficiente para pensar em desligar. Planos, sorrisos, telefonemas, e-mails, contatos, cerveja, trabalho, leitura. Muita coisa já estava acomodada no histórico daquele dia. Ele já tinha sido o suficientemente bom e já estava acabado. Ou quase. Ia desligar o computador, dar “boa noite” para Marcelle, com que divido o apartamento e, ao deitar, dormiria como só os justos conseguem. Mas antes que o fizesse, ela resolveu sanar uma dúvida profunda que assolava seu ser. Daquela cabeça adulta, sustentada por um corpo recém-saído da adolescência – como eu gosto de ressaltar – ela me atirou uma pergunta infantil pela essência:

- Gui, será que agora a gente vai viver o resto da vida com saudade?

Ela referia-se ao fato de termos saído de nossa cidade natal, Campo Grande, onde deixamos além da família, amigos e uma terra querida. Saímos, mas muitos amigos saíram também. Mesmo que voltássemos, alguns amigos já teriam partido, outros – novos – continuariam por aqui. E aquele sentimento de vazio que persistia em existir dentro de nós poderia perdurar. A pergunta tentava desvendar se ele era intrínseco ao ser humano, se a vida adulta era permeada de novos caminhos e de novos espaços atrelada a um sentimento de esperar um por vir e cultivar saudadades pelo(s) que se foi (foram). Uma pergunta pertinente, mas quem sabe a resposta?


Indicação: Há até um blog inteiro dedicado a perguntas. Ótimo e oportuno, ele é o melhor dos diários virtuais que acompanho. Escrito por Armando Anternore, editor da Revista Bravo, sua descrição faz a seguinte pergunta: O que é melhor para nos fazer entender o mundo: as respostas ou as perguntas? Leiam mais aqui: http://armandoantenore.com.br/blog/

Entre Aspas: Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, não vejo a paz. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Marcelo Rubens Paiva.

Vale a pena ler o post completo que contém a crônica 'O amor acaba?' http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/90-minutos/

PS: Post dedicado à Marcelle. Como disse a Pati(minha amiga e dela): amigo é a melhor invenção. É com eles que a gente divide perguntas, saudades, expectativa pela nova diarista, risos da cara plastificada da Ana Maria Braga, contas e tantas outras coisas...É com eles que a gente vai ressignificando os acontecimentos do dia, a vida... E, talvez, por isso, o assunto nunca acabe. Então, qual será a próxima novidade? A próxima pergunta?

domingo, 21 de março de 2010

Casos de verão


Tive vontade de fumar aquela noite. Queria prolongar o prazer e acalentar um pouco mais do fogo que havia entre nós. Mas tudo acabou sem promessas, sem troca de telefone, apenas com um selinho (na verdade, dois) e desejos de “tudo de bom”. De qualquer maneira, o que aconteceu antes valeu por toda uma vida que não teríamos juntos.

[05/03/10]

Entre Aspas: O que existe de mais extraordinário na realidade é que a realidade não existe. Do filme Salve Geral.

sábado, 13 de março de 2010

Rascunho 06/10/2009


Tenho medo de com o tempo perder essa inocência
De achar os prédios altos
As mansões surreais
A Berrini glamorosa e ostentadora
O centro sujo
Os mendigos gente
As pessoas gélidas
De não olhar nos olhar
De não me surpreender mais
De acostumar com os barulhos
E ser mais um deles
Nem posso.

Entre Aspas: O importante não é um lugar nem outro. É a viagem. É a solidão com seus pensamentos, você e seu espírito. Antunes Filho

segunda-feira, 1 de março de 2010

É como se patinasse no gelo, perdido no vazio urbano, tentando escapar de um monstro que teima em engoli-lo

E quando a gente se perde no tempo, esquece o nome, não sabe de onde veio e os dias passam. A cabeça não processa mais nenhuma informação nova. As antigas só fazem parte da memória quase esquecida. Faz tudo no automático, como se deixasse pegadas na areia para o vento apagar em instantes.

Da brisa lembra do frescor, do antigo amor não ficaram nem as cicatrizes, os que já foram amigos não o vêem mis. Nem se lembra quando é seu aniversário. Nada tem importância. Vai de uma esquina para outra buscando o prazer momentâneo. Sai do chão e vai as nuvens num choque de realidade que traz flashes de imagens. A sensação o incomoda. Não viu nada de bom ou que presta.

Não importa, nem se recorda porquê começou a escrever isso aqui. Larga tudo, sem saber o quê e como escreveu e vai para o próximo cruzamento. Poderia ser confundido com uma placa, a não ser pelo fato que nela constam informações e nele não. Os olhos são opacos, sem vida, não parecem serem habitados por um ser. Nem conseguem enxergar os que passam por ali. Tem uma coisa que emite um barulho que o incomoda. Ele balança a cabeça e segue para a próxima esquina e para a próxima, e mais uma... Até voltar tudo de novo. Está perdido e arrependido. Mais uma vez. Do que mesmo?

15-08-2009

Entre Aspas: Os rótulos amarram as garrafas e enforcam as almas. GSD