quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Encontros - A falsa rica e o falso pobre


Foi uma manhã agradável aquela terça-feira, 25 de novembro de 2008, em que fiz esta entrevista com Maria Elisa. Cheguei atrasado. Havíamos marcado 8 horas no MC Donald’s da Afonso Pena, ao lado do Camelôdromo de Campo Grande. Marê, como a chamamos, comprava seu café da manhã quando cheguei. Ela já estava achando que eu a tinha esquecido. Tomou capuccino “P”, o suficiente para deixá-la elétrica – como ela mesma lembrou. Ao fim da entrevista, um menino de rua pediu um lanche. “Puta merda, logo no MC Donald’s que é caro”, comenta a falsa rica, rindo, num comentário despretensioso. Eu, falso pobre, nem tinha grana para pagar o lanche do garoto.

Do MC Donald’s passamos por um viela de paralelepípedo encravada atrás da Morada dos Baís. “Endereço ótimo para uma organização não-governamental”, pensamos. Seguimos para a Loja Americanas, onde ela trocou um sutiã e comprou um ferro de passar. Estava de volta a Campo Grande!

Os olhos de Maria Elisa são a parte mais bela de seu ser. São grandes e castanhos, daqueles que puxam para o que se classifica de mel ou esverdeado. Têm cílios longos e sobrancelhas marcantes. São olhos expressivos que provocam seus interlocutores e falam muito da menina que tinha medo de subir em árvore e que se transformou em uma mulher que quer defendê-las.

Num papo leve, ela se acha demagoga, se classifica como ambientalista e fútil e revela um pouco dessa campo-grandense recém-chegada a sua cidade natal após dois anos em Alta Floresta (MT). Conheça um pouco mais dela na entrevista a seguir, mas leia com tempo, que a conversa rendeu...

Guilherme – Gostaria que você começasse falando seu nome, sua idade, e onde você nasceu.
Maria Elisa
– Tá bom. Maria Elisa Guimarães Corrêa da Silva. Meu nome profissional Maria Elisa Corrêa, tenho 24, nasci em 84, dia 26 de julho e nasci aqui em Campo Grande.

Gui – O que você faz hoje Marê?
Marê
– Hoje sou desempregada, me formei em jornalismo, me tornei ambientalista e hoje estou sem fazer nada. Estou há cinco dias de dondoca. (risos).

Gui – Gostaria que você contasse sobre sua infância. Como foi, do que você brincava?
Marê
– Cara, a minha infância foi muito boa. Nasci numa vila aqui em Campo Grande, que hoje em dia já é um bairro grande, que é a Vila Alba. A gente passava o dia inteiro na rua, não tinha trânsito na nossa rua. Eu tenho duas irmãs mais velhas e minha mãe sempre deixou a gente fazer o que queria. Então, era assim: uma irmã de quatro, uma irmã de três e eu de dois anos, junto na rua e minha mãe nem aí. Tem uma irmã minha que é complexada com a minha mãe por que não cuidava da gente, mas acho que foi a melhor coisa que ela fez.

Gui – Vocês brincavam do quê?
Marê
– Brincava de esconde-esconde, cola-cola americano, de gato mia, gato mia era legal. Nunca fui de jogar bola, não tenho coordenação motora. Desde criança eu não jogo bola. A gente ia bastante para fazenda, que minha avó tinha fazenda, ou a gente estava na fazenda dela, ou então em alguma fazenda com o meu tio, irmão do meu pai. Sempre eu e minha irmã do meio, a gente era ligada mais com a outra. A gente brincava de Barbie no galinheiro, se hoje você for nessa fazenda que era da minha avó, você ainda acha pedaço de casa de Barbie pelo quintal.

Gui – Qual é a melhor lembrança dessa fase?
Marê
Ah! Têm tantas! São as mais simples, lembro quando a gente acordava no domingo e a porta da cozinha para o quintal já estava aberta. Porque era horrível você acordar no domingo e a porta da cozinha ainda estar fechada, significa que o dia ainda não tinha começado. Às vezes, meu pai, ele gosta muito de música, para ele acordar a gente colocava um rock progressivo no último, às oito horas da manhã. A gente acordava as três emburradas, mas adorava. Abria a janela, aquele sol quentinho, assim. São essas mais simples. Nunca fui de subir em árvore, quando a gente subia em árvore eu ficava no chão. A gente subia em árvore para brincar de prédio. Cada uma morava em um andar. Eu era sempre a que morava no térreo. (risos) E eu nunca ia visitar ninguém, por que você tinha seu apartamento, e você ia visitar. Ninguém ia me visitar, por que ninguém queria descer. Eu ficava lá olhando para cima esperando.

Gui – E tinha graça?
Marê
– Tinha. Tipo, lá em casa tinha um pé de goiaba, que era o pé de goiaba, que mais dá goiaba no mundo, nunca vi coisa igual. Acho que era por que tinha três crianças lá e se não desse goiaba não ia ter graça. Minhas irmãs subiam e eu ficava lá esperando. Lógico que quando elas jogavam uma goiaba, ela não caia na minha mão, eu não conseguia pegar. Ficava lá esperando elas descerem. A gente chamava de pé de galinha.

Gui – E a fase seguinte, a adolescência. Como foram os primeiros namoros...?
Marê
– Huuum... Aqui em Campo Grande a pré-adolescência até que foi interessante. Eu estudava em um colégio grande: o Oswaldo Tognini, e eu reprovei e fui para um colégio de vila, de castigo, que foi a melhor coisa. Eu fiz muito amigo de rua, muito amigo vizinho, passava o dia inteiro na rua. Quando ia fazer trabalho era perto de casa, quando eu matava aula vinha aqui para o centro. Eu fico imaginando agora, na 7ª série eu matava aula vindo para o centro, uma criança. Depois a gente foi morar em Salvador (BA). Eu estava com 13 anos quando fui morar em Salvador. Foi uma providência divina, minha adolescência começou lá, então eu construí uma forma de ver o mundo, diferente de Campo Grande. Aqui, a cabeça é muito fechada, por mais inteligente, intelectual que a pessoa seja, ela é fechada para idéias novas e comportamentos diferentes, inclusive para classe social. A gente não vê muita amizade entre classes. Em Salvador não tinha isso. Podia ser o menino mais rico, da escola mais rica, mas ele ia para escola de ônibus e passava à tarde com a galera dele na rua, tinha amigo morava na favela, amigo que morava no condomínio mais caro. Isso foi muito bom para mim.

Gui – Você estudou naquele colégio de rico de Ondina (bairro de Salvador)?
Marê
– Eu estudei no de Ondina. Eu estudei no Isba. Eu estudei em um melhor que o Isba. A minha irmã é muito inteligente, a Ana Beatriz, a do meio, aí ela conseguiu uma bolsa de estudos para estudar no Marista, colégio tradicional no mundo inteiro, colégio francês e tal. Minha mãe falou assim: já que uma conseguiu uma bolsa de estudos, vamos fazer um esforço para colocar as outras duas. Meus pais nunca tiveram dinheiro, mas o dinheiro que eles tinham eles pagaram nossos estudos. Eu lembro que nessa época de Salvador, tinha épocas que meu pai não tinha dinheiro para ir trabalhar, ele pegava ônibus e não tinha dinheiro. Às vezes pedia para a secretária dele. Ficava sem almoçar, para poder dar o tíquete refeição dele para a gente comer depois da aula. A gente passou apertado, umas semanas comendo arroz e feijão sem sal, por que não tinha dinheiro para comprar sal. Mas enfim...

Gui – Você morou lá dos 13 (anos) aos...
Marê
– Aos 17. E aí, a gente foi estudar nesse Marista. Colégio extremamente tradicional, mas mentalidade muito aberta, maravilhoso. Colégio que estudou Raul Seixas, Dias Gomes, e aí lá fiz muitas amizades. Tenho amizade com algumas pessoas de lá até hoje.

Gui – Namorou algum negão?
Marê
– Não, mas fui apaixonada por um. Ele era negão e ainda tinha rastafari, vários piercings. Foi quando eu mudei para o Isba, estava no segundo ano, repetindo meu segundo ano do Ensino Médio. A minha conversa com ele era para eu colocar o meu piercing, ele ia me acompanhar. Um dia a gente marcou para eu colocar meu piercing e ele me deu os canos. Aí, eu desisti. E ele era azul mesmo, negão azul, só que era mirradinho, mas era muito bonito.

Gui – Como foram os primeiros namoros? A descoberta da sexualidade na adolescência?
Marê
Eu sempre fui muito assanhada. Sempre gostei de namorico, eu tive um namorado na 3ª série. Hoje em dia ele é gay, mas ele foi meu namorado. (risos) Na 3º série, todo dia ele me levava um cartãozinho, a gente lanchava junto, dava selinho. Aí eu traí ele. Na 3º série eu traí uma pessoa (risos). Foi com um amiguinho dele que me deu um beijo. No outro dia, eu não aguentei e contei para ele. Daí eu saí como a biscatinha da história, realmente fui, o menininho me deu um beijo e eu deixei. Mas pruuu... Na adolescência aqui em Campo Grande, sempre tive uns paquerinhas na escola, sempre tinha alguém interessado em mim, mas era aquela coisa de pré-adolescente, era tão difícil ficar com alguém. Era um problema que você tinha na sua vida. “Ai, meu Deus, como vou falar com ele?”, “Como vou me comportar?”, “E se eu sentir dor de barriga?”. Aí, em Salvador foi diferente, eu sempre tive um namoradinho, sempre tava ficando com alguém. Quando a gente saía, beijava três no mesmo show, isso era super normal lá e é normal até hoje, pode ser bizarro. Depois que você amadurece você vê... Mas nessa fase não é, mas se você for fazer isso hoje em dia é uma agressão a você. Mas ia, beijava, fazia lista. Quando estava em Salvador eu tinha uma lista de 50 meninos que eu já tinha beijado.

Gui – Porque vocês mudaram para Salvador?
Marê
– Por que meu pai estava desempregado aqui, ele trabalhava com telefonia rural, rádio amador. Quando começou essa história de celular, rádio amador acabou. Ele ficou muito tempo sem emprego. Daí, um amigo dele de São Paulo conseguiu um emprego para ele na Nextel, que é hoje é uma puta empresa de telefonia, e naquela época não era tão grande aqui no Brasil. Meu pai podia escolher ou morar em Salvador ou morar em Fortaleza (CE), aí ele escolheu Salvador e a gente foi. Quando teve o atentado em 11 de setembro (2001), como era uma multinacional e ainda era um pouco fraca aqui no Brasil, eles tiveram um baque nas contas deles e tiveram que mandar umas 200 pessoas embora e meu pai foi uma delas. Aí, a gente voltou.

Gui – Sua irmã (Ana Beatriz) ficou?
Marê
– Ela ficou por que já estava na faculdade. A outra também ficou, mas ficou em Feira de Santana. Depois desistiu e veio para cá.

Gui – Como você descobriu o Jornalismo. Porque você quis fazer jornalismo nessa fase?
Marê
– Ah! eu queria Produção Cultural, sempre gostei muito de música, minha mãe brigava muito comigo: “Você não vai passar de ano ouvindo música”, “você não vai ganhar dinheiro ouvindo música”. Eu sempre gostei dessas coisas, daí em Salvador tinha um curso na (Universidade) Federal que chamava Comunicação Social - Produção em Cultura. Aí, em Campo Grande, publicidade eu nunca quis. Daí, eu falei “ah, vou fazer jornalismo em Campo Grande”. Acabei passando. E acho que foi a melhor escolha. Acho que se tivesse conseguido entrar em produção cultural seria uma cult muito louca e chata hoje em dia.

Gui – Você não se arrepende, nem tem vontade de fazer Produção Cultural?
Marê
– Não, não. Não.

Gui – Você quer ser jornalista para o resto da vida?
Marê
- Quero ser jornalista para o resto da vida. Quem sabe um dia professora, mas continuo jornalista.

Gui – Quem é Maria Elisa? Maria Elisa por Maria Elisa.
Marê (risos) –
Sabe que eu não sei. Eu tô numa fase muito nova para mim. Essa minha estadia no Mato Grosso, me mudou muito. A maioria das pessoas aqui de Campo Grande acha que eu mudei para pior, que eu fiquei muito chata, muito crítica. E eu acho que não. Considero que eu amadureci, que eu realmente abri meus olhos, então eu tô tentando me achar, por que eu tô vivendo os dois extremos, eu me tornei ambientalista. Quando você se torna ambientalista você abre os seus olhos para o que está acontecendo, e resolve se responsabilizar, ou não, e trabalhar para melhorar isso, ou não. Eu acho que eu preciso fazer isso, pode ser que eu não consiga fazer, que eu desista, mas hoje é uma vontade que eu tenho. Ao mesmo tempo, eu sou de família tradicional, vou me casar com um fazendeiro. É isso, estou tentando achar um equilíbrio nisso tudo. Como não me contradizer, sendo o que eu sou e o que aprendi e, ao mesmo tempo, não acabar com o meu relacionamento, e juntar essas duas coisas. Como eu posso ser ambientalista e trabalhar numa Ong, se eu vou todo dia com uma joia que ganhei de noivado. Que valor isso aqui tem para mim, sendo que eu sei a destruição que isso causou. O que eu tô carregando no meu dedo é um peso, que valor eu vou dar para isso aqui? Que valor que eu espero que as pessoas dêem para isso aqui? Com que tipo de gente eu quero andar? Essa minha volta é muito isso. Como é que eu vou me organizar agora. Então, eu tenho um pouco de receio de onde vou trabalhar, para não esquecer de tudo isso.

Gui – Como é sua relação comigo? O que você gosta e o que não gosta em mim?
Marê
– Eu gosto de tudo. Eu gosto de tudo. Acho que você é um excelente profissional, sabe escrever muito bem, sempre soube, desde o começo da faculdade. Eu acho que você é uma pessoa muito especial, que dá para confiar, ao mesmo tempo, é uma pessoa que é aberta para conversar com todas as outras pessoas. Na verdade, na nossa turma a gente nunca teve segredo. Então, a gente não pode falar muito nisso: “ah eu não confio em você”, a gente confia na turma. Eu gosto muito de você.

Gui – Não tem nada de ruim?
Marê
- Cara, eu acabei de voltar. Eu tô com saudade. Uma coisa de ruim, eu não sei. Acho que você precisa se libertar mais de algumas coisas.

Gui – Como por exemplo?
Marê
– Ah! eu acho que você ainda é um pouco fechado com os seus sentimentos. Toda vez que você bebe, você chora. Porque você chora quando você bebe, o que é isso que está preso em você? Aprendi muito com você, tanto das realidades que eu estava falando, por que por mais que a minha família seja pobre, ela vive no meio de pessoas ricas e, em algumas horas, se ferra por conta disso, porque se acha rica. Então, por um bom tempo, eu vivi nessa cúpula. Aprendi com meu falso pobre. Eu tava pensando no elevador: “Eu sou a falsa rica! Se ele é o falso pobre eu sou a falsa rica” (risos). Eu gosto de vocês. Eu gosto muito de você. Você é um menino muito especial.

Gui – Obrigado. Com quem você tem mais afinidade da nossa turma? Queria que você falasse dessas ligações.
Marê
– Ah, assim, eu criei uma relação muito boa com a Maria Fernanda. A gente é muito diferente um do outro, totalmente diferente um do outro. Eu não sei o que significa afinidade, se é você se encontrar em outra pessoa, ou você se relacionar muito bem com aquela pessoa respeitando as diferenças. Se for isso, eu acho que tenho com todas as pessoas. Algumas eu ainda tenho umas crises, mas Maria Fernanda e Camila Abelha são extremamente especiais para mim. Viviane também é, mas parece que a gente está em fases diferentes. Maria Fernanda é uma pessoa que vai ser para o resto da minha vida minha irmã, não falo irmã por que relação de irmão a gente acha pelo outro ser muito diferente, a gente tem o direito de mudar, não gosta. É isso que dá errado. Não tenho essa relação com vocês, não tenho essa relação com Maria Fernanda. Então é por isso que vai dar muito mais certo, a gente nunca vai ter crise. E se tiver também vai ser superada. Camila Abelha é uma pessoa muito fechada, mas é uma pessoa maravilhosa, que eu aprendi a respeitar muito, aprendi muito com ela, quando a gente morou junto. Hoje eu entendo a cabeça dela como funciona. Helito, como eu falei, fico um pouco com receio de como vai ser a atitude dele, mas vi que por mais longe que ele esteja da gente, por mais distante que ela pareça da gente. Ele não é. Quem mais? Ah! Todos são especiais. Não gosto de ficar citando nomes.

Gui – Você ainda tem uma afinidade grande com a Isabela, que era a sua maior amiga no começo da faculdade?
Marê
– Tenho. A Isabela, a gente se fala, pelo menos quando eu estou em Campo Grande, no mínimo uma vez por dia. Ainda mais que a gente está numa mesma fase: as duas vão casar, então eu acompanhei todo o preparativo do casamento dela. Ninguém aguenta conversar sobre casamento, quando não vai casar e não se interessa pelo assunto. Então, a gente completou uma a outra. As nossas dúvidas. E é uma pessoa incrível, extremamente inteligente, ambiciosa, no positivo, ela sabe o que ela quer e trabalha para isso. É uma ótima amiga. A gente deu muita sorte, por que ela arrumou um noivo - não gosto dessa palavra, acho muito brega – um namorado, que se deu muito bem com meu namorado. Então, a gente virou bem aqueles casais amigos, sabe. Esses dias ela chegou, eu estava aqui e tinha que ir embora na segunda-feira a noite para Alta Floresta. Na segunda de manhã, ela chegou lá em casa: “Não, vamos para Ponta Porã, preciso trocar meu pneu. Vamos agora, vamos agora”. Eram 10 horas da manhã, saímos os quatro para Ponta Porã, desliguei meu celular, falei se Deus quiser minha chefe não me liga. Deu tudo certo. De vez em quando ela tem essas loucuras e a gente embarca.

Gui – Você quer trabalhar em qual área do jornalismo? Quer trabalhar só com ambiental ou se propõe a trabalhar com outras áreas?
Marê
- Me proponho a trabalhar em outras áreas, mas o que me...

Gui – Você trabalharia com a área cultural, por exemplo?
Marê
– Trabalho. Trabalharia, é uma área que eu gosto, né? É uma área que eu pensei em começar, mas o que eu tenho receio, não é exatamente onde eu vou trabalhar, mas o que vai significar o meu trabalho. Foi muito bom esse tempo que eu estive fora porque eu comecei a ficar pensando assim: “Vou trabalhar para uma pessoa ficar ganhando dinheiro”. Vou me estressar para ganhar um salário, tá tudo bem, pode ser bom, mas uma pessoa está ganhando 20 vezes mais do que eu em cima do que eu estou fazendo. Eu acho que jornalismo não serve para isso. Se a gente quisesse fazer isso, a gente fazia administração. Quem faz jornalismo, faz por um ideal. Como disse um professor nosso, que eu não lembro qual foi, jornalista quer ser pobre. A minha dúvida é essa: qual vai ser a diferença que o meu trabalho vai fazer e para quem vai fazer. É mais nisso que eu penso.

Gui – Como você se vê daqui a dez anos? Você vai estar casada, com filhos? Vai estar em Campo Grande? O que quer ter feito?
Marê
– Ah! é tão complicado. Até daqui dez anos, provavelmente eu já vou ter filhos.

Gui – Vai ter 34 anos, terá só um filho?
Marê
– Não, não quero só um filho não. Quero, no mínimo, uns dois. Mas eu tenho medo do mundo que eu vou colocar essa criança, pelo menos hoje eu penso assim. Acho que eu vou ficar louca com isso. A Maria Fernanda disse que eu vou ficar louca, teve um dia que eu dormi pensando: “meu Deus como vai ser minha vida sem água?”. Comecei a imaginar. Está fazendo um barulhinho...(diz apontando para o gravador)

Gui – É normal...
Marê
- ... Lógico que você quer ter filho, todo ser humano é egoísta a ponto de querer um bichinho com a sua cara, não tem como não ser. Espero já ter feito um intercâmbio. Espero fazer isso casada, não quero que meu casamento seja uma coisa regrada e convencional. Quero ter feito um intercâmbio, quero ter conhecido novas culturas, quero ter feito um mestrado, quero ter feito a diferença para mais pessoas. É isso.

Gui – Você acha que vai estar em Campo Grande?
Marê
– Não sei, pode ser que sim. É provável que sim, ou em Corumbá. Por causa do Stefano não tenho muita liberdade de mobilidade.

Gui – Campo Grande é uma cidade que você gosta?
Marê
– Eu aprendi a gostar. Eu aprendi a gostar, mas o interessante que eu aprendi a gostar de Campo Grande, não por Campo Grande e pelas pessoas de Campo Grande, é pelas pessoas que eu tive contato na época da faculdade, que a maioria delas não é de Campo Grande. São as pessoas, inclusive, que eu tenho mais afinidade hoje. E aí vi que existe possibilidade de uma outra Campo Grande, existem várias. Qual a minha? Aprendi a gostar. Na hora que eu estava vindo, estava atravessando, aí eu vi essa baixada aqui, eu falei: “nossa como eu gosto dessa cidade”.

Gui – Como você vê o jornalismo que é feito hoje?
Marê
– Qual é o objetivo? Eu fico me perguntando isso: qual é o objetivo? Jornalista tem que se especializar num tema que ele gosta, ou num tema que ele acha importante. O que mais a gente vê é equívoco, pelo menos depois que eu entrei nessa área ambiental, que aprendi alguns conceitos, não estou falando que sei tudo e, inclusive que sou preparada para escrever sobre esse tema, mas você vê muito equívoco. Daí você começa a pensar, se nesse área tem, política tem, economia tem. Eu me irrito com telejornal, não assisto telejornal, acho aquilo a coisa mais ridícula do mundo. Vários amigos meus trabalham em telejornal. Acho que aquilo não tem serventia nenhuma do jeito que é feito. Prefiro jornal impresso e alguns. Aqui em Campo Grande, prefiro O Estado do que o Correio do Estado. Nem pego um Correio do Estado para ler. Esses dias o Stefano chegou com um O Estado para eu ler, falei: “Ah! que bom, comprou o certo”. Por mais que eu saiba que existam coisas por trás. Mas eu aprendi a acreditar no que dá para acreditar e deletar as outras coisas. Tem que se perguntar que jornalismo é esse que a gente quer fazer, para que serve, a gente está entrando, vive na era que a informação é poder, mas a gente não tem a informação necessária para o poder. E que poder é esse que a gente quer? A gente quer um poder único ou quer um poder compartilhado?

Gui – Como você avalia o governo Lula?
Marê
– Ah, eu votei nele na primeira eleição, não votei nele na segunda. Hoje sou adepta do voto nulo. Vou votar numa pessoa no dia em que tiver certeza que essa pessoa eu confio. Sou apartidária também, já fui simpatizante do PT, na época que eu não entendia, achava bonito ser do contra. Mas eu acho que por mais coisas erradas que a gente ache que ele fez, o País nunca esteve tão bem. Nossa democracia é nova, o que eu sinto falta, não é necessariamente do governo Lula, é da postura das pessoas diante do governo. As pessoas elegeram o cara que elas quiseram, e continuou sendo massa alienada. Acho que isso é o errado. Existe uma linha de pensamento que chama democracia direta. O que me incomoda não é o Lula, mas é o Legislativo. O tanto de dinheiro que a gente gasta para as pessoas não representarem a gente do jeito que a gente tem que ser representado. Eu voto nulo por que eu não quero que ninguém me represente, eu falo por mim. E aí é que tá, a democracia direta é acabar com o Legislativo e começar a distribuir esse poder, fortalecer associação de bairro, fortalecer sindicato, para as decisões serem tomadas nesses lugares. E esses lugares terem seus representantes que é o que deveria acontecer e não acontece. Daí se faz o poder. Vou pagar R$ 8 mil para um vereador ficar escolhendo nome de rua. Pelo menos, em Mato Grosso o salário deles aumentou para R$ 8 mil. Para ficar viajando de graça, se hospedando de graça, ter tudo de graça, ter cadeira que faz massagem. Lá na Assembléia de Mato Grosso eles compraram cadeiras caríssimas que faz massagens neles o dia inteiro. E o gari, e o cara que está consertando poste de luz, a galera que fica com Lesão por Esforço Repetitivo (Ler)? Não gosto dessas coisas. Acho que não precisa. Até por que é uma elite que está sempre ali, nunca muda. É muito difícil uma pessoa que vai sair da nossa associação de bairro e vai para lá. E se vai para lá é uma pessoa que quer ser corrompida. Então...

Gui– Que Brasil é esse que você descobriu em Alta Floresta? É um Brasil que dá certo? É um Brasil de comunidade, como você falou?
Marê
– É um Brasil que está tentando dar certo. É um Brasil que está tentando se descobrir. É um Brasil que há 30 anos atrás era uma floresta. E muita coisa errada, muita gente boa tentando dar certo. Um povo totalmente sem atenção das autoridades, por isso, acho que não funciona mais, entendeu? Para gente de uma cidade grande, por que hoje Campo Grande, para mim, é grande, a gente acha que até está sendo bem representado. Mas imagina uma comunidade ribeirinha lá no bico do Mato Grosso, que não vai ninguém, onde o cara sobrevive do que ele planta, e quando ele tem que ir ao médico, ele pega um barco, passa duas horas no rio, para chegar à estrada mais próxima e ficar a cinco horas da sede do município dele, que tem um posto de saúde e não tem médico todos os dias. Então ,a gente tem que rever os nossos conceitos. O Brasil ainda dá para ser arrumado, dá para a gente parar de fazer as coisas erradas que está fazendo, de se basear em modelo estrangeiro. Não tenho muita propriedade para falar sobre isso, mas a gente tem tamanho e dinheiro suficiente para escolher o nosso modelo de desenvolvimento, para falar o que a gente quer fazer e como a gente quer fazer. Pode entrar capital estrangeiro, não existe mais como se fechar no mundo hoje em dia. Mas o que a gente vai fazer com esse dinheiro? Como é que a gente vai querer que essas empresas trabalhem dentro de nosso país? A gente tem poder suficiente para isso. As pessoas que estão no poder para isso, têm medo ou têm rabo preso. É um País muito diferente, na verdade são vários países dentro de um mesmo território gerido pela mesmo centro de poder. Acho que a forma de modificar o País podia ser modificada.

Gui – Qual foi a maior dificuldade em Alta Floresta?
Marê
– Foi isso mesmo, buscar o meu equilíbrio. Como que eu neta de fazendeiro, sobrinha de fazendeiro, noiva de fazendeiro, vou trabalhar com Movimento Sem-Terra? Como eu vou colocar essas duas coisas em equilíbrio? Acho que essa foi a parte mais difícil.

Gui – Teve um momento que foi mais difícil? Um dia que você pensou: “Eu vou desistir, vou embora daqui agora”.
Marê
– Ah! no começo eu me achava incapaz. Mas eu acho que em todo emprego que a gente for um pouco mais do que a gente estava acostumado a fazer, a gente vai ter esse medo. Muito pelo contrário. Eu só lembro de momentos assim: “Meu Deus, é isso que eu quero para a minha vida”, “Meu Deus, eu estou aqui, não acredito”.

Gui – Pensou alguma vez em ficar lá para sempre?
Marê
– Já...

Gui – Você voltaria para lá
Marê
– Sozinha não. Aí, que eu comecei a pensar. Esse trabalho que eu aprendi a fazer lá, eu posso conseguir fazer aqui. Por que não é só lá que precisa de gente trabalhando com isso. Até porque no Brasil lá é o lugar que mais tem gente trabalhando com isso, tentando melhorar a qualidade de vida das pessoas, tentando preservar o que ainda existe. A Amazônia brilha o olhinho. Agora no final foi bom, comecei a aprender sobre o Cerrado e as pessoas que moram no Cerrado, é superimportante trabalhar com isso. O Pantanal, e as pessoas que moram no Pantanal, é extremamente importante você trabalhar pela conservação desses lugares. Para gerar informação útil para preservar esses lugares, melhorar a qualidade de vida dessas pessoas que moram nesse lugar.

Gui – Qual foi o maior aprendizado?
Marê
– Eu acho que foi aprender a respeitar mais as pessoas, as diferenças. Eu ainda tenho muito preconceito, não o preconceito no sentido popular da palavra. Mas aquela coisa de separar pré-conceitos, eu ainda tenho que melhorar isso. Sou muito imatura ainda, não tenho inteligência emocional boa. Estudar mais...

Gui – Você falou que é ambientalista agora. O que isso significa isso? O que é ser ambientalista?
Marê
– Ambientalista para mim é você entender a realidade que a gente vive e trabalhar em cima disso. O que eu quero fazer nesse mundo? O que eu quero deixar nesse mundo? Que forma eu quero viver e como eu vou me relacionar com as pessoas.

Gui – O que você pretende fazer agora?
Marê
– Quero continuar trabalhando na área ambiental. Não só na área ambiental, mas se conseguir um trabalho numa organização não-governamental (Ong) que trabalhe com direitos humanos, por que um, não exclui o outro, não é diferente do outro, só trabalham em ramificações diferentes. Ong ambientalista é mais fácil por que hoje tem mais recurso.

Gui – Você tem vontade de fazer uma página em um jornal sobre meio ambiente?
Marê
– Eu ficaria muito feliz, se tivesse oportunidade de escrever em um jornal sobre assuntos ambientais, sobre alternativas de produção, sobre comportamento em relação a isso. Mas acho que ainda não tem abertura suficiente em relação a isso. Tenho vontade de ser mais participativa na gestão da minha cidade, seja a cidade que for, participar dos conselhos. A minha vontade, do que fazer em Campo Grande, é ser esposa, mas ser mais responsável. É o que eu penso hoje. Talvez amanhã eu esteja de saco cheio disso e queira ser dondoca, separando meu lixo, fazendo minha compostagem e minhas coisas, sendo responsável dentro da minha casa, mas desistindo do resto. Pode ser que eu pense assim amanhã, mas hoje eu ainda estou afim.

Gui – Porque o Stefano é o homem da sua vida?
Marê
– Ai... Essas perguntas são difíceis para mim. Eu me tornei uma pessoa mais fechada, com relação a isso. Mas ele é uma pessoa muito especial, ele é muito companheiro. Eu aprendi muito com ele, quando a agente se conheceu eu era uma pessoa, eu ainda sou, nervosa, pavio curto. Não me importava muito com algumas coisas que hoje eu já me importo e ele foi me ensinando, com as atitudes dele. Ele é uma pessoa que é muito próxima da família, e isso é difícil hoje. Ele é uma pessoa que sabe o que quer, é responsável. Ele é muito companheiro, me faz rir...

Gui – Vocês estão a quanto tempo juntos?
Marê
– Quatro anos e dois meses.

Gui – Você acha que essa relação é para sempre?
Marê
– Eu acho que é para sempre. Espero que seja para sempre. Não vou começar um casamento pensando: “se não der certo, termina”. Acho que começa errado daí...

Gui – Você casa em 13 de Junho de 2009?
Marê
– É... Os relacionamentos começam errados porque as pessoas pensam isso: “Se não der certo, termino”. Mas não é assim, por que a outra pessoa vai ser melhor do que a que você estava? Ela vai ter defeitos também que vai ser difícil de você aceitar. Vai ser difícil de você acostumar, você respeitar. Os indianos falam muito nisso, a gente acha que não, mas a maioria dos jovens indianos são a favor do casamento arranjado. Por que outra pessoa vai ser melhor do que ela? Eu tenho que amar as duas, então eu preciso conviver com ela. Eu vou ser feliz com ela. É um amor incondicional. Eu aprendi disso, numa fase de decisão na minha vida, que foi quando ele me pediu em casamento, a gente tava vivendo fases muito diferentes. Eu tenho os meus preconceitos, mas eu não falo. Eu não vou falar sobre o que eu não sei. Eu não vou tratar sobre questão indígena, sobre o que eu não sei e são coisas pesadas, e ele fala. Ele fala demais, ele fala sobre o que ele quiser. Isso me incomoda um pouco. Eu não vou me relacionar com ele por causa disso? Por que nossas opiniões são diferentes? Eu tenho que aprender a respeitar e viver com isso. Que bom que nossas opiniões são diferentes, a gente vai ter motivo para brigar, que não são sérios, por que quando são sérios, a coisa não fica boa.

Gui – Você acha que o maior desafio da sua vida é superar essa contraditoriedade de ser ambientalista e ser de uma família tradicional e ter um marido que é de uma família tradicional?
Marê
– Hoje é. Hoje é. (...) Não posso ser radical. Às vezes fico pensando em ser radical: “minha vida não vai ser mais fácil se eu mudar para uma comunidade, neohippie no meio do mato, ficar por lá, ter um relacionamento com um cara que seja assim também...”, mas eu gosto de luxo! Só acho que o luxo tem que ser para todos.

Gui – Você é uma pessoa ranzinza e intolerante?
Marê
– Sou.

Gui – É?! Era para você falar que não...
Marê
– Não, eu sou.

Gui – Você se considera preconceituosa também?
Marê
– Sou, mas tenho trabalhado isso. Esse relacionamento me ajudou muito nisso. Que tipo de ser humano eu quero ser? Eu vou maltratar as pessoas que eu gosto. Eu tenho trabalhado muito isso, eu tenho procurado me tratar. Agora eu parei meus tratamentos, mas tenho me tratado...

Gui – Você está fazendo terapia?
Marê
– Acupuntura, que resolve muito e é maravilhoso. Mas não só acupuntura resolve. Acho que continuar trabalhando nesse meio é a maior terapia que existe. Porque você tem que aprender a lidar com as pessoas, lidar com as diferenças, com classes socais diferentes, com culturas completamente diferentes. Isso ensina você ser mais paciente, mais tolerante. A Maria Fernanda que fala: “Nossa, você mudou muito”. Não dou mais chilique, se sou mal atendida em um lugar, falo apenas, olha...

Gui – Você não dá mais chilique?
Marê
– Não dou mais. Às vezes dou, mas não ridiculamente como antes. Mas eu ainda gosto de ser chamada de pintcher. (risos)

Gui – Você vai me contar um segredo agora.
Marê
– Ai, um segredo. Eu não sei se tenho mais segredos, por que...

Gui – Pode ser uma coisa boba...
Marê
– Coisa boba eu tenho várias...

Gui – Tipo, eu tenho vontade de comprar uma calcinha vermelha, mas nunca tive coragem...
Marê
– Não isso eu compro e adoro. Esses dias eu estava na Renner vendo um monte de lingeries super bizarras e tinha um monte de velhas me olhando. E eu nem aí. Elas deviam estar pensando: “Que menininha biscate, né?”. Eu não tenho mais essas coisas. Se minha mãe me perguntar se eu já fumei maconha, eu falo para ela que eu já fumei. Não é um segredo, eu omito. Eu omito as coisas. Tenho um segredo idiota... (risos). Uma vez que eu fui no Fly e estava muito bêbada e comecei a conversar com uma pessoa sobre sexo anal (risos). E aí, conversando blá, blá, blá... Aprendi com o Helito, essa liberdade sexual de falar sobre esses assuntos e achei que as pessoas tinham também. E aí esse menino começou a espalhar para as pessoas que eu era ninfomaníaca. E isso chegou no ouvido do pai da Viviane na nossa formatura (risos). Ele veio perguntar para ela: “Viviane, é verdade que a Maria Elisa é ninfomaníaca?”. Ela falou: “Sei lá, pai, está louco?”. (risos). É uma coisa que me incomodou um pouco na hora. Fiquei pensando o que estou fazendo com a minha imagem, o que estou fazendo comigo? Mas é tão idiota. As pessoas têm que se libertar desses preconceitos. Meus preconceitos são por coisas formadas no início da minha vida ainda. Essas coisas novas que eu fui tendo contato depois, não... Eu devo ter segredos, mas agora não consigo...

Gui – Teve alguma pergunta que você achou que eu ia fazer, que não fiz, e que você ficou pensando antes?
Marê
– Não. É muito difícil dar entrevista por que sua cabeça embaralha. Acho que estou um pouco mais acelerada por causa do café. Ah! eu queria pensar num segredo meu. Não sei, são todos de ordem sexual, que não são segredos, são fantasias minhas, que não têm porque contar.

Gui – Você quer fazer uma pergunta para mim? Nunca fiz isso.
Marê
– Uma pergunta para você? Vai ter um silêncio aqui nessa parte.

Gui – Você sabe que eu escrevo isso, né?
Marê
– Aham. (risos). Por isso, que suas entrevistas são boas, as entrevistas que a gente lê em revistas que são ruins são aquelas duronas. O que você achou da minha entrevista? De verdade, você achou que eu sou demagoga?

Gui – Não, eu achei que você... Eu ainda não sei avaliar. Achei que você foi sincera. Você foi demagoga?
Marê
– Não sei ainda. É isso que eu estava te falando.

Gui – Acho que está natural.
Marê
– É uma vontade minha hoje, pode ser que daqui há dois anos eu tenha mudado, ou tenha desistido, seja editora de Moda de alguma revista, sei lá, vai saber.

Gui – A intenção da entrevista é tentar descobrir quem é a pessoa, que ela se revele...
Marê
– Ah! Eu sou uma pessoa fútil, tá?

Gui – É?
Marê
– Sou!

Gui – Mas você é ambientalista.
Marê
– Mas uma coisa não exclui a outra. Fútil, no sentido de gostar de coisa de mulherzinha. Gostar de tendência, não sou escrava.

Gui – Você não tem medo de ser identificada como uma pessoa fútil?
Marê
– Eu já tive mais. Eu ainda tenho um pouco, mas é o que te falei, é a questão dos estereótipos. Uma pergunta com estereótipo: “Mas você é ambientalista, como você é fútil?”.

Gui – Na verdade, foi uma provocação.
Marê
– As pessoas não se enquadram, elas nunca se enquadram numa coisa só. As pessoas que se enquadram, ou ela enlouquece, ou ela vive isolada.

Gui – Você já leu Piauí?
Marê
– Já...

Gui – Não com muita freqüência pelo jeito. Você já viu uma seção lá que chama “O que aprendi”, e a pessoa escreve sobre suas experiências. É super legal. Já viu isso?
Marê
– Não. (...) Então, um exemplo de futilidade: aquela revista Vida Simples é ótima, mas é muito fútil. Porque é como se fosse, um conhecimento que todo mundo precisa ter, feito por uma editora como a Abril, que é extremamente elitista, numa revista que custa R$ 10,90. Quem vai ter acesso a esse conteúdo? Isso é uma futilidade.

Gui – Você gosta dessa revista?
Marê
– Adoro. Inclusive, tem uma jornalista que chama Elisa Corrêa, que escreve muito bem. É uma revista para quem tem acesso e para mim isso já passou a ser fútil. Uma calça de R$ 90 é uma futilidade, é esse tipo de futilidade que eu gosto.

Gui – Te faz bem?
Marê
– Me faz bem. Infelizmente me faz bem. Sou extremamente consumista, isso é uma coisa que me deixa mal. Por que eu tento consertar, eu gasto, eu gasto, gasto. Não necessariamente compro coisas, mas gasto. Se estou com vontade de comer isso, vou lá e como, quando eu vejo não tenho mais. Em São Paulo eu enlouqueci.

Gui – A Maria Fernanda fala que você é a típica campo-grandense, que é fechada... Você concorda?
Marê
– Concordo. Ainda mais agora que a gente saiu da faculdade, é muito mais difícil a gente fazer amizade. Quando eu mudei para Alta Floresta eu fiquei muito tempo sem fazer amizades. Pessoas de cidade pequena também têm dificuldade de fazer amizade. Não por que são fechadas, mas por que não têm com quem fazer amizades. Então, é sempre ali com suas famílias, com seus grupinhos. Eu fiquei muito tempo sozinha, uns 10 meses sozinha em Alta Floresta. Daí, começaram a chegar pessoas novas, a maioria vinda de São Paulo, para trabalhar comigo. Foi daí que a gente formou uma turma maravilhosa. Morei com uma menina de São Paulo, a Paula, que me ensinou muita coisa. Ela era tolerante, maravilhosa, tinha uma paciente de Jó comigo. Uma coisa que eu fico pensando: “como eu vou manter essas amizades?”. Vou precisar me esforçar e amizade é isso: você tem que se esforçar para manter. Por que se não você fica longe e quando vê a pessoa, vocês não se identificam mais. Eu não sei se sou tão típica campo-grandense, a [Camila] Bertagnolli é mais.

Gui – Campo Grande ou Cuiabá?
Marê
- Campo Grande!

Gui – Agora uma provocação para Maria Fernanda. Por quê?
Marê
– Campo Grande, Maria Fernanda! Cuiabá é uma cidade extremamente bagunçada, é uma cidade que nasceu do garimpo, então, não tem organização nenhuma. As pessoas são...

Gui - ... super simpáticas, com vontade de ser suas amigas... (tom irônico)
Marê
– É igual em Salvador, as pessoas. Cuiabano lembra muito nordestino. Tem muito nordestino, garimpeiro a maioria era nordestino. Só que é frívolo aquele negócio.

Gui – Frívolo é uma palavra bonita, né? (risos)
Marê
– Eu aprendi com Caetano Veloso. Uma hora é, uma hora não é amigo. A maioria das pessoas de lá são fúteis, não vou falar todas, por que minha amiga não é. Todo mundo malha, todo mundo faz academia. Se você precisar comprar uma roupa lá, você vai comprar o que está na moda, senão não vai conseguir comprar. Para você comprar algo que não está na moda, você vai ter que se desgastar, por que aquela cidade é quente para caramba, desorganizada e o povo se transforma no trânsito. Aquele desenho do Pateta, do senhor Volante, aonde ele é um cidadão pacato, mas quando entra em um carro se transforma em um monstro. Isso é com todo mundo lá, inclusive com Maria Fernanda. Pode colocar isso na entrevista, que ela sabe. Teve um cara que escreveu uma dissertação de mestrado no ano passado, ele fez um estudo dizendo que vai ser impossível morar em Cuiabá daqui a 20 anos. A temperatura já está insustentável, vai estar mais. O trânsito está insustentável, é muito quente, é muito carro, é muito ar-condicionado. Lá ar-condicionado não é luxo, é necessidade mesmo. Dá dó das pessoas que não tem. É uma coisa extremamente cara, que demanda muita energia. Não tem condições. Se Cuiabá não começar a mudar a partir de agora.... A gente tem que começar a rever isso, como vai viver em uma cidade quente? De forma sustentável. Não é colocando ar-condicionado em todos os lugares. Campo Grande tem muita árvore, isso me deixa feliz. Da vista do apartamento da minha mãe você não vê rua, vê casas e árvores. Em Cuiabá, não tem mais. Cuiabá era a Cidade Verde, não tem mais. A estrutura da cidade é péssima, eles não cuidam. Cuiabá é a porta do resto do Mato Grosso. As pessoas chegam lá para ir para Sinop fazer um negócio. Lá é um porto de negócios, não importa se a rua do bairro da periferia está esburacada e o ônibus não consegue passar. Isso não gera divisas para a cidade ou para o Estado.

Gui – Vamos para a fase brega da entrevista que é o bate-bola.
Marê
– Xuxa!

Gui – Um lugar?
Marê
– Minha casa.

Gui – Qual é a sua casa?
Marê
– Com vocês, com o Stefano e com a minha família, independente do lugar que seja.

Gui – Família
Marê
– É necessário e complicado.

Gui – Um exemplo
Marê
– Minha turma. Minha turma é um exemplo.

Gui – Amor.
Marê
– Necessário, extremamente necessário e fácil. É muito mais fácil amar. A gente complica muito a vida, complica muito as relações humanas. E é tudo muito simples.

Gui – Brasil
Marê
– Tem potencial para ser um país melhor. Tem pessoas muito inteligentes, boa parte delas esquecidas em algum lugar remoto do território, mas que tem muito potencial.

Gui – Jornalismo
Marê
– Jornalismo é um estilo de vida.

Gui – Meio Ambiente, em uma palavra.
Marê
- Uma palavra? É vida. Vida é muito brega essa palavra, o cachorro da Gisele Bundchen chama Vida... Meio Ambiente é sobrevivência.

Gui – Uma qualidade que você admira nas pessoas.
Marê
– Que difícil. Uma qualidade? ... Paciência.

Gui – Uma qualidade sua
Marê
– Não sei.

Gui – Você não tem qualidades?
Marê
– Ah! Devo ter, mas não sou eu que vou...

Gui – Uma coisa que as pessoas falam que você é...
Marê
– (silêncio). Algumas pessoas me acham engraçada.

Gui – Um defeito
Marê
– Intolerante e impaciente, por que não dá só um.

Gui – Um momento de alegria
Marê
– Sempre que a gente se encontra, para mim é sempre muito bom.

Gui – Um momento de tristeza
Marê
– Domingo, televisão. Assistir televisão durante o dia é um momento de tristeza.

Gui – Um homem
Marê
– Stefano!

Gui – Uma mulher
Marê
– Minha mãe

Gui – Uma fruta
Marê
– Cacau. Eu me acabava de comer cacau lá. É uma fruta que eu vou sentir saudades. Na primeira vez, é uma decepção por que você acha que vai comer chocolate, mas não tem nada a ver, por que chocolate vem da semente.

Gui – Nunca comi. Tem gosto de quê?
Marê
– É ácido, é tipo uma jaquinha, mas não é tão carnuda por dentro. É tipo um cupuaçu só que doce e acidinho, maravilhoso!

Gui – Uma comida
Marê
– Macarrão pantaneiro, com charque e feijão em cima.

Gui – Uma frase
Marê
– Ah! Não tenho frase. Tem uma parte de um poeminha do Neruda, que é do “Livro das Perguntas”, que é uma perguntinha bonitinha, que é, não escrito dessa forma, por que Pablo Neruda escreve maravilhosamente bem, mas como eu lembro dela é: “Suicidam-se todas as folhas quando se sentem amarelas?”. É bonitinho.

Gui – Um recado final, para quem está lendo essa entrevista.
Marê
– Como as pessoas que lêem essa entrevista são as pessoas da minha turma, por favor, façam críticas a mim, a mim.

Gui – Como assim?
Marê
– Porque quando a gente lê uma entrevista no seu blog, a gente comenta uma com as outras, mas não necessariamente chega na pessoa que fez a entrevista. Sempre acontece isso, desde a época da faculdade. Cada um entende de um jeito.


Maria Elisa é a filha caçula de Maria Auxiliadora e Guilherme. Ela tem duas irmãs: Mariana, 28 anos, que está grávida do Vicente “que vai nascer a qualquer momento” e Ana Beatriz, tem 26, e faz doutorado em São Paulo.


Gui – A gente não falou das suas irmãs. Você se identifica mais com a Ana Beatriz é isso?
Marê
– Antigamente sim. Hoje em dia não. Hoje noto muito mais a minha diferença com elas do que o que a gente tem em comum. Quando você está se formando e precisa ser igual a alguém, ter uma referência, você se sente parecida com uma ou com outra. Hoje em dia nem quero.

Gui – Qual é a sua ligação com elas? Elas são pessoas importantes na sua vida?
Marê
– Muito! Muito, são pessoas que a gente tem muitos conflitos, por sermos muito diferentes. Esse ano a gente teve uma briga muito feia, por conta dessas diferenças, cada uma tomou seu rumo, e quando a gente se encontrou e se juntou em um lugar pequeno não deu certo. Minha mãe interferiu, falou que não aguentava mais, que não criou as filhas dela, para ver elas brigando desse jeito, que ela sofre muito. Isso me fez muito mal, fiquei muito tempo pensando, refletindo, cheguei a constatação que é isso: a gente se acha no direito de uma mudar a diferença da outra. Só que é isso que é legal, é isso que precisa ser respeitado. Eu procuro não julgar mais elas. Eu ainda julgo um pouco, mas procuro não julgar. Se for julgar, vou guardar isso para mim. Quero ser feliz com elas, isso que é importante. As pessoas podem falar que isso é falso, mas acho que não, isso é viver bem.

Gui – Qual é o recado que você tem para dar para a Maria Elisa que vai ler essa entrevista daqui a quatro meses. Porque esse momento é único. Você está voltando para a sua cidade, está num reconhecimento de área, reaprendendo a viver aqui. [A entrevista foi realizada em 25 de novembro de 2008 e só publicada agora]
Marê
– Espero que a Maria Elisa não tenha se acomodado. Não tenha se acomodado com a situação nova que ela vai viver. Se as coisas não derem certo, que ela tenha coragem para mudar, para buscar as coisas novas. Eu entrei na faculdade com uma mentalidade completamente diferente, com uma vontade totalmente diferente de hoje. Eu espero que se esse caminho que escolhi hoje não dê certo - mas eu acredito que ele dê certo - eu não tenha medo de ir atrás de outro caminho, por mais difícil que isso seja. Eu acredito que as condições de vida daqui para frente vão ser cada vez mais difícil, nossa forma de encarar a vida. E dinheiro é uma coisa que acomoda muito a gente. Espero que isso não seja um fator para que eu me acomode.

Próxima parada: Terminal Morenão

Esse lugar é o centro das contradições. É aqui que se mostra o preconceito, que se vive a diversidade, que não se respeita os direitos. É lá que se discrimina, que é possível ter alegrias e sofrimentos.

É por ali que passa a travesti indo para o trecho, a patricinha para a faculdade, o peão para a cidade, o hippie para o Parque de Exposições, a doméstica para a casa da patroa...

E acolá (bem em frente ao terminal), o grafiteiro colore o prédio abandonado, o bombeiro treina, o fanático prega, o carteiro seleciona correspondências, o mecânico se suja, o negro carrega caixas com verdura e a menina que terminou o Ensino Médio vende brinquedos.
A senhora tem a coluna encurvada, os cabelos brancos, os olhos claros. A pele branca é marcada por rugas. O único traço de beleza são os miúdos olhos verdes e a presilha que prende o coque: - É menino ou menina, ali de vermelho? – interroga, se atrevendo a interromper o silêncio e invadir o pensamento alheio.

- Menino – é a resposta. Ela se espanta e olha mais uma vez sacudindo a cabeça e sentenciando: - A gente vê cada coisa nesse mundo! Ela volta ao silêncio. A cabeça daquele que foi questionado fervilha: - É evangélica! – conclui.

O menino de camiseta vermelha tem cabelo curto, usa calção e chuteira e tem trejeitos masculinos. Está junto a um grupo de cinco meninos. Um deles é bem mais alto e se destaca do grupo. É magro e usa cabelo cumprido, boné e mochila. Eles não têm mais do que 16 anos. Outro é visivelmente extrovertido, falante e brincalhão. Ele faz “carinho” no menino de vermelho. Os cinco meninos atravessam o terminal conversando. O extrovertido massageia a mão do de vermelho. O gesto simples entre dois amigos escandaliza a velha. A camisa de uma deles denuncia: “handebol”. São meninos que jogam handebol e utilizam as mãos para as jogadas... Mas os olhos daquela senhora já estão gastos e viciados e não conseguem mais ver. No que ela enxerga, há diferença.

Cabelos exageradamente loiros, praticamente brancos. Muito escovado. O rosto exibe traços marcantes, rugas fortes e bem definidas. Com jeito sexy, se escora na barra do ônibus. As roupas são decotadas e chamativas. Tem mais de 50 anos, é negra e não poderia ser taxada de bonita. “É uma trabalhadora do sexo” – pela maneira que encara, pelo olhar lânguido e perdido, pela boca excessivamente vermelha, pelos seios apontando pela blusa sem sutiã...

O lobo-mau é fiscal no terminal. A rima não é intencional. Pedro cuida dos horários dos ônibus no Terminal Morenão, em Campo Grande. Nas horas vagas ele é o lobo-mau da peça “Chapeuzinho Vermelho”. Ele é ator, aqui é mais um que passa despercebido.

Outro usa gel, topete, tem olhos claros, cara de menino e lembra um amigo de infância. Também passa em meio as pessoas, organizando, anotando e se perdendo na multidão. Usam camisa azul e calça social preta. No meio da multidão que espera um ônibus, todos são mais um, na sua diferença e igualdade. Eu? Sou mais um deles.




Setass abre sindicância e apura divulgação indevida de imagens de adolescentes

A Secretaria de Trabalho e Assistência Social (Setass) abriu sindicância para apurar as circunstâncias da divulgação de imagens no site do órgão em que os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas na Unidade Educacional de Internação (Unei) Dom Bosco aparecem trabalhando (detalhes de como foi a divulgação estão no post anterior).

Segundo a superintendente de direitos humanos da Setass, Marina Bragança, nas imagens os adolescentes aparecem plantando grama no campo de futebol. “Era um sonho antigo deles. Ajudaram a plantar a grama e a intenção era registrar esse momento de descontração”, justifica.

Marina Bragança diz que a titular da Setass, Tânia Garib, ficou “chateada com a situação” e que a órgão abriu sindicância para apurar as circunstâncias do fato. Ela não esclareceu se haverá alguma punição ou medida reparadora por ter exposto indevidamente os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.

Bragança também não soube responder qual era a finalidade um bastão (pedaço de pau) que estava na mão de um dos agentes educadores. O uso de cacetetes, armas e equipamentos de repressão são proibidos pelo ECA de serem utilizados no interior das Uneis.

*A matéria sobre a divulgação indevida das fotos dos adolescentes da Unei Dom Bosco foi publicada por Campo Grande News, Midiamax e Correio do Estado. Aos leitores, amigos e colegas, que leram e apoiaram a publicação da matéria neste espaço, os meus agradecimentos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Setass desrepeita ECA e expõe adolescentes*




Guilherme Soares Dias

A Secretaria de Trabalho e Assistência Social (Setass) mantinha em seu site fotos de adolescentes que cometerem atos infracionais e cumprem medidas socioeducativas na Unidade Educacional de Internação (Unei) Dom Bosco, localizada na BR-262, na saída para Três Lagoas, em Campo Grande. As fotos estavam publicadas na galeria “reforma Uneis”, no canto inferior direito do site http://www.setass.ms.gov.br/.

Nas imagens, os adolescentes apareciam com pás e carrinhos ajudando na limpeza, na reforma do local e no plantio de grama. São mais de dez fotos, que trazem o rosto dos adolescentes, enquanto trabalham, sorriem e posam aos agentes de medidas sócio-educativas. Em uma das fotos, um agente aparece segurando um pedaço de pau no formato de um cacetete.


O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é taxativo quanto a proibição da veiculação de imagem de adolescentes, principalmente nos casos de terem cometido ato infracional. O parágrafo primeiro do artigo 247 afirma que “incorre em multa de três a vinte salários quem exibe fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente”. O artigo 17 do ECA também prevê direito ao respeito, no qual há a previsão de preservação de imagem e da identidade de crianças e adolescentes.

O presidente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) Marçal de Souza, Paulo Ângelo de Souza, diz que a situação denunciada descumpre todos os direitos defendidos pela instituição. “O trabalho para esses adolescentes só pode ser feito como adolescente aprendiz, com acompanhamento. Trabalhar dessa maneira é expô-los a uma situação vexatória, é uma grave violação, jamais poderiam trabalhar na reforma da unidade”, diz. Com relação a divulgação das imagens, Souza é enfático: “É um ato doloroso, tudo que a gente luta contra está aí”, diz. Ele afirma que o CDDH deve denunciar o caso ao Ministério Público Estadual.

Segundo a superintendente de direitos humanos da Setass, Marina Bragança, os adolescentes da Unei Dom Bosco ajudaram na reforma da unidade como forma de preencherem o tempo disponível. Ela afirma que a atividade foi “um momento de interação com os adolescentes”. Bragança não considera que há descumprimento do ECA ao divulgar este tipo de imagem. “Há proibição de veiculação na grande mídia. São fotos institucionais, que mostram os adolescentes trabalhando”, diz.

Questionada se o pau que um dos agentes segurava era utilizado para “manter a segurança” do local – o que também é proibida pela ECA -, Marina Bragança disse que não conhecia o teor das fotos. “Estou apavorada. Você viu essas fotos no site da Setass”, retrucou. A galeria de imagens foi retirada do ar no fim da tarde.

*A notícia acima foi vetada de meio de comunicação considerado sério, que se diz ético e respeitador de seus leitores. A foto é uma das publicadas na galeria e mostra o agente com um pedaço de pau na mão. Ela foi recortada para manter a segurança dos agentes presentes na imagem. Esse texto e as fotos da galeria foram enviados para o CDDH e para o Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Mato Grosso do Sul para que sejam tomadas as medidas cabíveis.