domingo, 5 de fevereiro de 2006

Porto Murtinho encontra a arte

"Espetinho, Cachorro quente, bebidas e Dum Dum", diz a placa de uma barraca na Praça de Eventos, em Porto Murtinho. Mas, o que é Dum Dum? Uma comida típica murtinhense? Vamos, perguntar. O Espetinho é R$ 4, o Cachorro Quente R$ 1,50, Dum Dum não tem preço e não está à venda, é o meu marido dono da barraca. Droga! Ninguém vai poder comer Dum Dum. (rs).

Na barraca ao lado, são vendidas cestas feitas com a palha do Carandá, árvore típica da região. Quanto custa? "Uma por R$7 e duas por R$ 15", responde a vendedora. Ah, Tá!! O prédio antigo da prefeitura está iluminado com pisca-pisca, é assim sempre? "Não só na época do natal", explica o guarda. Natal, mas já é fevereiro? A pequena e promissora cidade fronteiriça tem ainda a Pizzaria Sorveteria Restaurante Tropical. Quanta coisa em um lugar só hein? Quanta modernidade!

Progresso sim. Porto Murtinho ganhou um pólo regional da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), serão abertos os cursos de pedagogia e administração.
"Se não levarmos a poesia, a arte, a cultura e a beleza conosco, é inútil percorrermos o mundo. E em nenhum lugar as encontraremos".

Concurso de Miss

Não há nada mais engraçado que concurso de beleza. Descobri que sempre tive vontade de fazer cobertura de um evento desses. Não tenha medo de estereotipar. Aqui os cabeleireiros, organizadores e maquiadores todos são bibas. A meninas (todas) dizem que a amizade entre elas é o mais importante, aprendizado que levarão pela vida toda (aham).

Pelo hotel, desfilam cada uma com a faixa com o nome de sua cidade. Elas são como roupas em uma vitrine. Todos olham e analisam. A conclusão é que são meio "derrubadinhas". Mesmo assim, o concurso atrai cinco mil pessoas que tiveram de pagar R$ 3 para assistir ao desfile - único evento pago do 1º Encontro das Artes.

Na platéia os deputados federais Vander Loubet (PT) e Murilo Zauth (PFL), o dono do grupo Correio do Estado e presidente regional do PTB, Antônio Hugo Rodrigues, o secretário estadual de cultura, Silvio Nucci, a delegada regional do trabalho, Eloine Marques, o vereador de Campo Grande Edmar Neto (PSDB), o carnavalesco e colunista Francis Fabiam, entre outros.

Foi montada uma Casa para as misses ensaiarem e se arrumarem. Na primeira entrada do desfile as 25 candidatas dançaram a música de abertura do Fantástico. Era sábado à noite, e foi bem melhor do que ver Zorra Total. Nos bastidores o aroma ambiente era o de laquê. O nervosismo, a suadeira e as bichas maquiadoras imperavam no ambiente. "Deixa-me armar esse cabelo. Na passarela volume é tudo", dizia o cabeleireiro. Ah! Tinha também mãe de miss abanando, secando o suor e arrumando o cabelo das filhas. "Rio Verde vem aqui", diz um dos organizadores, aqui todas são os nomes das cidades, ninguém lembra de seus nomes de batismo.

Veja o que "pensam" e falam as misses:

Paranaíba (3º lugar). Leontina Rafa de Souza Neta, 18 anos, alta e loira. Ela foi eleita a miss de sua cidade, após ter perdido o concurso e sua família tradicional pressionar o prefeito para enviá-la como representante. Leo, apesar disso, era bonita e legal, só precisava de um pouco mais de inteligência, mas aqui isso não importa muito. "Faço cursinho, atravessei o Estado para estar aqui, viajei 800 km quero contagiar os jurados e o público através da minha beleza, simpatia e carisma. É um orgulho representar a minha cidade, quero levar a beleza da mulher paranaibense para o Brasil". Quanta modéstia!

Campo Grande (ficou entre as 5). Fernanda Moraes, 18 anos, faz psicologia na UCDB, levou dois ônibus com torcida e distribuiu camisetas com seu rosto. Cabelos pretos, rosto e corpo bonitos. Simpática, ela sorria e tentava agradar as outras meninas querendo abocanhar o Miss Amizade (não é mais Miss Simpatia). Porém, todas pareciam estar contra ela por ser da Capital como todos os jurados. Na hora de responder o que uma Miss representa, Fernanda empacou, pediu para Marisa Machado, a apresentadora, repetir a pergunta. O público vaiou. "Meus amigos e minha família estão me dando força, dá um friozinho na barriga, eu adorei estar aqui, fiz muitas amizades com as meninas, passei momentos maravilhosos", considera.

Porto Murtinho (ficou entre as 5). Marluce Ocampos, 18 anos, estudante. Não era bela nem feia, mas a simpatia com a ajuda do público levaram a menina pela passarela. Marluce viveu sua noite de glória. "Estou incentivando a meninas a valorizarem a beleza. Estou dentro da minha cidade, a expectativa está a mil, eu vou guardar para sempre essa oportunidade marcante", ressalta.

Miss Mato Grosso do Sul 2004. Laila Ramos, 18 anos, é de Dois Irmãos do Buriti e veio para passar a faixa já que em 2005 não teve concurso. Feiiinha... "Represento o nome do Estado, tenho que estar sempre bonita. No Miss Brasil, fiquei trêmula, o país inteiro nos vendo ao vivo, mas foi fantástico representar nosso Estado. Fui sozinha para lá.Hoje dei muitos conselhos de como se portar e de como é o dia-a-dia de uma miss", fala a "segura" e "experiente" miss.

Ponta Porã. (ficou entre as 11). Elizabete Auxiliadora Fernandes Calanga, 23 anos, trabalha fazendo cerimonial e de atendente em uma clínica de estética. Ela se destaca das outras por ter uma beleza exótica, usa um enorme topete e brinco de argola grande e dourado. A maquiagem é pesada. "Eu vim pra ganhar, acho que a beleza exótica é o meu diferencial. É um orgulho muito grande representar minha cidade, a convivência não é fácil, mas mesmo assim fizemos amizades. Agora deixa eu subir lá (sic) para ganhar!". Acho que não deu né?!

Amambaí (ganhou o concurso e é a Miss MS 2006). Rayssa Espíndola, 18 anos, é estudante e trouxe 45 pessoas para torcida. A moça foi modelo durante um ano em São Paulo, voltou a MS para o Miss, na preparação engordou 8 kg. Onde? Na sua cidade tem um projeto de inserção de jovens no mercado da moda. É bonita (não muito, mas é) e tem uma simpatia radiante. Entra com braços abertos na passarela e conquista os jurados. Abanando Rayssa, está a mãe Célia. "É emocionante, sou uma mãe coruja, a faixa veio com o acento no "i" está errado", defende. Rayssa está preste a entrar de maiô na passarela. "Dá um friozinho na barriga, os jurados fazem um raio X em nosso corpo, essa parte conta bastante", afirma. Depois de ganhar o concurso a menina prometeu ampliar seu projeto social. Tudo pela paz mundial!

Dois Irmãos do Buriti (26º lugar, eram 25 participantes). Patrícia da Silva Oliveira, 18 anos, estudante, parecia irmã de uma "amiga" nossa. Era feia, o cabelo com relaxamento era ondulado da raiz até a metade e alisado nas pontas. Na noite do desfile, fizeram uma maquiagem e "arrumaram" o cabelo da menina de uma maneira que a deixava mais feia. O seu vestido era brega. Nada salvava? Não, e para piorar, quando entra na passarela, Patrícia tropeça, ela está nervosa, os olhos enchem d'água. Tento entrevistar Patrícia, de tão nervosa ela mal consegue me olhar, a única coisa que consegue dizer é: "Estou nervosa". Deu para perceber Patrícia.

Sidrolândia (ficou entre as 25, rs). Istela Lissara, 18 anos, loira falsa, baixinha, cabelo escovado, lente azul, nariz e soberba grandes. A moça tinha uma agente que respondia as perguntas por ela já que não tinha cérebro o bastante para pensar. "O que você leva de aprendizado para sua vida?", pergunto. "O que eu posso levar de aprendizado?", ela questiona para a agente. A mulher responde por ela. No fim ela consegue dizer que terá uma boa lembrança de tudo. Olha até conseguiu formular uma frase sozinha, aprendeu bastante garota!

Santa Rita do Pardo (também ficou entre as 25). Nádia Bronze, 23 anos, formada em jornalismo pela UFMS, faz mestrado em Curitiba e já ganhou o prêmio jornalista amiga da criança. "O que você faz em um concurso de miss?", questiono. Ela responde: "Desde pequena meus pais e amigos diziam que eu seria a Miss Brasil 2000. Os concursos estão evoluindo, os penteados, as roupas, a mulher brasileira não é só bonitinha, tem que trabalhar, lutar, ter conhecimento. Além disso, é uma experiência conhecer outros lugares outras pessoas", diz a morena de 102 cm de quadril. Simpática, Nádia se cobre apenas com um pano azul. Pena que miss tem que ser magricela e burra né?

Bonito...ops...ela não participou, mas no outro dia sua faixa era usada por Ney Amaral, biba organizadora do concurso que desfilava com o pedaço de pano branco pelo hotel. "Miss é um jogo, elas são embaixatrizes da beleza. Hoje esse concurso foi uma superação. Vamos fazer uma forte preparação para o Miss Brasil que acontece dia 1º de abril, quero ir para concorrer e não apenas participar". Tudo bem Miss Bonito...rs.


O MISS MS foi transmitido ao vivo pela TVE Regional. O MISS Brasil será transmitido pela Band. Ah! Quanta bagagem para meu currículo emocional e intelectual

Entre Aspas: Cada um por si e ninguém ajuda o resto. Frase da peça Dois Perdidos em uma Noite Suja.

guilherme - 23:16:53
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Porã

Porã em guarani quer dizer coisa boa, bela. Bela é Porto Murtinho, cidade a 450 km de Campo Grande. Da Capital, a distância é grande, só não é maior que o calor. Quente é o povo dessa terra. Solo branco, assim como o de Corumbá. Da cidade branca tem também o Rio Paraguai. O Paraguai é bem ali do outro lado do rio. A água é turva e cheia de camalotes e chalanas. Essas embarcações de madeira dividem espaço com as balsas e grandes barcos turísticos.

Turismo é o que fizemos por lá durante o 1º Encontro das Artes. Teatro, música, poesia e exposições plástica e fotográfica invadiram a pequena cidade de 13 mil habitantes. Pessoas que nunca haviam assistido a uma peça de teatro. Durante as apresentações, gestos largos, figurinos coloridos e cenários que aguçam a imaginação e invadem a Praça de Eventos. Local construído no centro da cidade para abrigar as festas. Festa é o que os 180 artistas de Campo Grande, Nova Alvorada do Sul, Três Lagoas, Nioaque, Dourados e Aparecida do Taboado fazem durante cinco dias. Dias que são claros até às 20h30 e repletos de atividades.

Atividade é o que fazem os murtinhenses no final da tarde, quando andam em cima do dique. A elevação de terra foi construída na década de 80 para conter o Rio Paraguai que provocou duas grandes enchentes naquela época. Épocas passadas são o forte da cidade que preserva nos prédios antigos a sua história. Tempo em que havia fábrica de taninho, erva-mate e porto. As exportações marítimas voltaram a acontecer e os produtos brasileiros atravessam o Rio. Atravessam também os artistas que levaram ao Paraguai a peça "Pluft o Fantasminha". O texto de 1956 de Maria Clara Machado é a peça infantil mais encenada no Brasil. Do país, os atores levam a língua, as roupas e os costumes para se apresentar na igreja da Colônia Carmello Peralta. Em solo paraguaio, os olhos brilham com a fantástica história do fantasminha.


Fantasma é a vila de Quebracho, bairro de trabalhadores da antiga companhia de erva-mate laranjeira, que foi maior que Porto Murtinho e hoje é apenas um abandonado distrito. Outro distrito é a Colônia Cachoeira Grande, a 100 km da cidade, que também recebeu teatro. Teatro? Aqui ninguém nunca ouviu falar nisso. Isso é a peça "Chapeuzinho Vermelho na casa da Vovozinha". Chapeuzinho Vermelho? Se questionam as crianças, esse contos elas não conhecem. Sabem dos causos pantaneiros e das histórias de caçador. Aqui - na história - se caçam lobo-mau. "Mãe, um lobo!", choraminga assustada uma criança.

O menino logo fica sabendo pela mãe que na verdade é uma pessoa vestida de lobo. Ele é mau e assusta crianças e mulheres. Elas riem e voltam à infância, época em que não tiveram oportunidade de ter contato com o teatro. A arte agora faz parte de seus mundos e agora querem poder sempre assistir espetáculos. Espetacular é o concurso de Miss Mato Grosso do Sul com fogos, torcida, glamour e moças bonitas. Beleza é uma coisa relativa, e coisa para poucas nesse caso. Situação em que inteligência contava pouco. Pequeno era o cérebro das moças que mal souberam responder as perguntas ridículas dos jurados. Júri que tirou ponto por tropeços das misses e deu lugar a Miss Porto Murtinho entre as 5 mais devido a torcida.

O povo aplaudiu e levou Marluce pela passarela. Lugar que consagrou como grande vencedora a ex-modelo Rayssa de Amambai. Amambaí, dizia, erroneamente sua faixa. Outra ela recebeu com o título de Miss Mato Grosso do Sul 2006, ela é a mulher mais bela do Estado por um ano. Um ano foi o tempo em que os cabeleireiros, maquiadores e organizadores do concurso - todos homossexuais - passaram investindo nas 25 meninas que participaram do concurso. Evento que foi transmitido ao vivo pela TVE Regional.

A região sudoeste de Mato Grosso do Sul ganha mais uma festa em seu calendário. A folhinha do prefeito de Porto Murtinho, que bancou todo o evento e não mediu esforços para que ele acontecesse, é distribuída na prefeitura. O prédio antigo foi restaurado e ainda está iluminado com as luzes do Natal. Época em que a cidade também recebeu turistas e ficou com hotéis cheios. Cheio ficou o Rio Paraguai no domingo, quando todos em suas águas foram se banhar. Tomar banho de três a quatro vezes por dia é regra no calor de 40 graus.

De grau é o óculos vermelho da Maureen, que ficou com cara de intelectual, mas mesmo assim não escapou de ganhar o prêmio de "Eu Faria" no Troféu Banana. "Fruta, Salame, Mussarela!", pediam aos gritos os jovens artistas durante o café da manhã. Na refeição desse dia só serviram pão e leite. Os jovens famintos após uma noite de diversão e de um sarau no dique, em frente à prefeitura, batiam com as mãos na mesa e exigiam uma refeição melhor. Boa foi a resposta do funcionário que lembrou que eram 6 da manhã e que haviam hóspedes dormindo no Hotel Americano. Local que abrigou jornalistas, misses e críticos de artes. Os produtores da Arte (atores e diretores) ficaram na Escola Municipal Tomaz Laranjeira.

O alojamento onde faltou água e que foi palco da festa "in off" do miss e mister teatro. O tradicional evento alternativo dos festivais tem fama de festa onde acontece tudo, mas pelo menos em 2006 foi comportada. O comportamento de um vigia e de um fugitivo da polícia que se encontram em um teatro, esse é o tema da peça "Na Boca Da Noite", de Curitiba que foi encenada no colégio e participou como espetáculo convidado.

Convidada também foi a peça "Dois Perdidos em Uma Noite Suja" apresentada no antigo prédio do cinema da cidade que está em obras de restauração. Na construção, cimento, vigas, cavaletes, tijolos, arquibancada e público. Pessoas que aplaudiram calorosamente o duo Filho dos Livres que fez uma apresentação inspirada. Inspirado é o poeta Emmanuel Marinho com seus doces e críticos versos. Um deles diz: "Poesia não compra sapato, mas como andar sem poesia". Em outro poema ele diz: "Por aqui, Tudo Porã".

guilherme - 22:47:31
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Uma Vida com Quintal

O ano está começando e estamos naquela época de fazer pedidos e planos. Para 2006 eu quero uma vida com quintal, simplicidade e tempo para curtir uma sombra de mangueira no fundo de casa, proseando com os meus.

Em dois dias muita coisa já aconteceu: viajei, fui assaltado, um primo faleceu, outro nasceu, reencontrei uma amiga e amanhã é o meu aniversário. 2006 promete ser o ano dos acontecimentos, mas pretendo desacelerá-lo e fazer com que corra manso e sereno.

É o ano de correr atrás, que começa sem rédeas e sem medo de chegar. Um ano intenso (e que seja assim). Que o vento nos leve para os lugares sonhados e que a estrada possa ser divida com amigos de caminhada.

A partir de agora nosso encontro é aqui: no meu quintal, que todos entrem e se aconcheguem. Um abraço e Feliz 2006.


guilherme - 16:14:13
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